Imagem de uma batendo palma com bastante desfoque de movimento.

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Tipo: Blog

Categorias: textos

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Esses dias em um papo que fiz com Daó para o Senac um dos alunos perguntou como a gente conseguia conciliar projetos pessoais com trabalho comercial. Eu dei a resposta mais sincera que consegui na hora de que na real a gente não consegue. O trabalho ocupa ainda a maior parte do tempo da minha rotina diária, seja quando eu to efetivamente trabalhando ou não. Infelizmente essa é a realidade do capitalismo.

A gente sabe que o Instagram é só um recorte da vida dos outros, mas é difícil não acreditar quando gastamos alguns minutos ou horas do nosso dia olhando aquelas rotinas que aqueles recortes não representam a totalidade da vida das pessoas. Isso não é novidade, profissionalmente tá todo mundo se estrangulando o tempo todo e jogando coisas ali na maioria das vezes porque é necessário seja pra existência do seu trabalho e/ou na busca de uma autoafirmação. Todos acabam performando atrás de performance.

Já faz um bom tempo que umas das coisas que me deixa mais cansado é ver a quantidade de projetos e coisas que queria fazer pessoalmente aumentando e sendo sobrepostas por outras coisas. As coisas que faço pessoalmente não tem uma relação com a produtividade do capital, mas sim com um desejo de fazer coisas. Me dá uma tristezinha não conseguir fazer todas as coisas sem propósito que gostaria de fazer.

No final de semana passado eu terminei a primeira parte de um projeto grande “100 formas de contar de 1 a 100 utilizando programação”, comecei ele lá em meados de julho de 2020. A primeira parte do projeto foi uma chamada aberta para pessoas em geral fazerem o exercício de criar uma visualização de uma contagem de 1 a 100 utilizando programação. O maior objetivo desse projeto era fazer as pessoas utilizarem o seu tempo para fazer algo que não tem uma utilidade prática além do próprio fazer. Esse é um lugar incomum para a programação no imaginário coletivo, mas eu acredito que programar é uma prática igual a desenhar, dançar, caminhar, entre outras que podem ocupar lugares não profissionais na vida de algumas pessoas.

Eu comecei sabendo que eu não conseguiria 100 pessoas para fazer todas as formas — eu não curto fazer o papel de divulgador e os meus contatos eram limitados — então boa parte delas teriam que ser feitas por mim. O projeto foi seguindo com uma série de longos hiatos intercalados por algumas propostas enviadas por pessoas externas e outras criadas por mim até chegar ao fim em março de 2024. Naturalmente algumas das últimas propostas que fiz eu gosto um pouco menos, mas a minha vontade era terminar essa primeira parte.

Vídeo mostrando 100 formas de visualizar uma contagem de 1 a 100, cada uma das contagens possui uma abordagem algumas mais literais outras mais poéticas.

Terminar essa primeira parte levou 4 anos. Eu queria ter terminado antes, mas pelo menos consegui terminar essa parte sem pressa, no tempo que ela precisou seja pela minha ausência pelo trabalho ou pela minha vontade de estar ausente ou em outros nadas. Sem pressa e com pausa. Essa é a maneira como quero tentar manter pelo menos a minha vida já que o trabalho exige outras dinâmicas de ritmo ainda.

Toda vez que eu termino ou faço algo improdutivo para o capital me da uma leve alegria e esperança no viver — algo difícil nos dias de hoje — e acho que ultimamente a vida está nas brechas que a gente acha. Uma hora uma brecha trinca e a gente vence.

Um comentário em “Sem pressa e com pausa

  1. Adorei as percepções de brechas, de tempo e do vídeo que condensa o projeto! Muito bonito! Poderia estar sendo projetado em pinacotecas pode aí!

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