Entrei na faculdade em 2011 e desde de lá ando pensando muito sobre questões do ensino — de certa forma sempre influenciado pelos meus pais professores — e uma delas que me incomoda bastante é o a relutância do mundo digital pela academia.
A maioria dos projetos são validados pelas quantidades de livros que se usam de referência e não pela qualidade real do texto e do pensamento crítico envolvido, aliás esse pensamento crítico quase nunca é solicitado, sendo mais interessantes citações e redundâncias de dizeres do que construções de propostas.
A academia deveria ser a maior interessada no uso da internet como uma ferramenta de disseminação de conhecimento. Vejo a academia como propulsora do conhecimento e a internet é um veículo rápido para isso. Boicotes a iniciativas como a Wikipédia é uma insistência em metodologias ultrapassadas de lidar com o conhecimento. Vivemos em uma sociedade intelectual em que o hipertexto é um processo intrínseco e natural.
E a relutância ao mundo digital segue em diversos níveis, em uma recente experiência foi proposto em uma aula de fotografia a construção de um “Diário de Imagens” com o objetivo de fortalecer a memória do aluno na compreensão de técnicas e formas de composição em fotografia através da catalogação de imagens. Um trabalho perfeito para ser feito em ambiente digital através de pesquisas no Google, Flickr, Pinterest, 500px e para catalogação até mesmo dentro dessas próprias ferramentas. Mas eis que surge a limitação um tanto quanto problemática. A catalogação deveria ser feita unicamente através do recorte de imagens em revistas, ou seja o aluno terá que percorrer um número alto de revistas vendo uma série de conteúdos que não dizem respeito ao trabalho e gastar horas a mais no projeto para colher as imagens.
Com esse exemplo um dos motivos a relutância digital fica claro, o medo do aluno burlar regras do projeto, talvez até copiando o trabalho de um outro aluno e a vontade do professor de querer controlar o aprendizado do aluno — o que na faculdade me soa ingênuo e até inútil — fazendo com que ele assimile conhecimento da mesma forma que ele, executando um projeto com uma metodologia do século passado (literalmente). Será que esse possível controle é válido? Ou será que é o interesse do aluno pela disciplina que produz o verdadeiro conhecimento? Pra mim a segunda hipótese me soa mais realista.
Quanto tempo será que ainda vamos levar para estruturar as tecnologias digitais como facilitadoras das organizações acadêmicas? E quanto será que vamos deixar que os alunos trilhem mais suas formas de conhecimento? O que será importante para o indivíduo, seguir uma série de passos que não fazem muito sentido ou seguir um raciocínio mais aberto?
Não sou a favor de uma tecnologia em detrimento da outra, mas a relutância ao novo ao invés da compreensão sustentável do mesmo é sempre um retrocesso.